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A transformação dos hospitais em um mundo digital

A transformação digital no setor de saúde na América Latina: Estamos falando de uma moda passageira ou, na realidade, estamos enfrentando mediante uma mudança de mentalidade para pensar em chave digital?

A transformação dos hospitais em um mundo digital

The world is moving so fast these days that the man who says it can't be done is generally interrupted by someone doing it. Elbert Hubbard, escritor e filósofo. (1856-1915)

Transformar. Mudar alguém ou algo de forma. Dicionário da língua portuguesa.

A transformação digital é um tema recorrente nos meios generalistas ou especializados em todo o mundo. Todos os setores e âmbitos sociais são afetados em maior ou menor intensidade por uma onda transformadora notada pelos principais jornais, revistas e sites de informação de todo o mundo. Naturalmente, a transformação digital também chegou ao setor hospitalar, às vezes, sem que os próprios interessados estejam muito conscientes do impacto e da profundidade das mudanças presentes. Nesse sentido, é preciso entender a real dimensão do conceito de transformação digital.

Transformar-se digitalmente não é “informatizar o hospital”, nem “fazer aplicativos” ou “permitir que o paciente marque suas consultas pela internet” ou deixar que o corpo clínico e administrativo usem seus próprios “smartphones ou tablets”, tampouco é “abrir um perfil do hospital no Twitter ou Facebook”. Embora estes elementos possam fazer parte de um processo de transformação, não podemos reduzir a transformação ao uso de algumas tecnologias concretas nem confundir o formato com o conteúdo.

A transformação digital é um processo contínuo e complexo, multidimensional, vinculado a fatores sociais, econômicos e tecnológicos que transcendem as paredes do hospital. Impacta a própria essência do que somos e do que fazemos. O primeiro passo real que um administrador hospitalar deve tomar é ter a consciência de que não se trata de uma moda ou de “algo que precisa ser feito”, mas, principalmente, implica uma mudança de mentalidade de todo o processo hospitalar para pensar em código digital. Sem dúvida, um bom ponto de partida parece óbvio: colocar o paciente no centro desta transformação.

O paciente como centro

Em geral, os hospitais e o setor de saúde vivem atualmente em seu próprio mundo de duas velocidades: o crescimento e a tecnificação ímpar de procedimentos médicos e de técnicas diagnósticas (incluindo a robotização de alguns procedimentos verdadeiramente complexos), os avanços surpreendentes nos materiais de uso clínico (alguns deles gerados com impressoras 3D) ou o uso de medicamentos inteligentes ou da terapia genética que contrastam radicalmente com métodos organizadores tradicionais e burocráticos, com processos de negócios lentos, inflexíveis, e, na maioria dos casos, isolados e desconectados da realidade fora de seus limites.

Até os hospitais mais modernos, com instalações de construção futurista, equipamentos sofisticados e interessados em conceitos modernos de gestão, parecem avançar lentamente quando observados pelo ponto de vista da transformação digital… Parece que os administradores destes hospitais escolheram usar um atalho, comprando uma nova roupa tecnológica para vestir os velhos processos do século XIX, sem entrar realmente no pensamento da natureza íntima e da razão de ser da organização, com o olhar voltado para século XXI.

Lembre-se de um fato óbvio: os hospitais existem para tratar dos pacientes que, às vezes, sentem que são os menos importantes em uma linha de produção organizada por um código interno dentro de uma organização de saúde, sem que suas necessidades e expectativas sejam notadas.

É por isso que a verdadeira transformação digital dos hospitais deve ter início entendendo o paciente em sua totalidade, começando não só pela dor que o trouxe até aqui (ou melhor ainda, evitando que ele chegue aqui), mas também por seu contexto, sua forma de vida, seus hábitos, seu ambiente familiar e social. Entender, também, que o paciente é e será cada vez mais um sujeito digital ativo, com acesso a tecnologias que podem e devem ser usadas como parte integral e natural de seu processo de atendimento e acompanhamento. As organizações de saúde devem visar realmente o paciente e organizarem-se para oferecer um atendimento eficiente e eficaz, do ponto de vista humano e técnico.

A tecnologia, longe de afastar, pode e deve humanizar os “encontros” e facilitar as trocas entre médicos e pacientes, mediante a comunicação segura e confidencial entre médicos e pacientes.

Naturalmente os pacientes querem e exigem que sua informação seja usada integralmente e de maneira inteligente. Não há nada mais frustrante e irracional para o cidadão/paciente do mundo atual do que precisar informar o histórico pessoal e familiar várias vezes, inclusive dentro de um mesmo hospital. Os dados desintegrados são praticamente um problema recorrente em toda a América Latina, desde a falta de integração dentro do mesmo hospital ou entre o hospital e sua área de saúde, sem falar nos níveis administrativos e geográficos superiores (municipal, estadual, nacional e internacional).

Se conseguíssemos unir a grande quantidade de dados produzidos pelas organizações de saúde e conectá-los de modo inteligente com dados que o próprio paciente tem ou que outras instâncias públicas ou privadas possam compartilhar do ambiente social, econômico e ambiental em que o paciente está inserido, poderíamos ter uma gestão completamente diferente e exponencialmente mais efetiva do que a que temos hoje.

A grande fase preditiva

Neste sentido, a capacidade preditiva de algoritmos inteligentes será uma fonte de inovação disruptiva para o setor hospitalar, tanto nos processos clínicos quando na gestão administrativa e econômica do setor hospitalar.

Um estudo realizado pelo ehCOS e NTTDATA NEXT, a maior base de dados de start-ups do mundo, sobre tendências em inteligência artificial no campo da saúde, demonstra dados reveladores desta fase preditiva: mais de 5 bilhões de dólares investidos em empresas emergentes neste campo promissor.

Tamanho é o interesse neste segmento emergente que uma pesquisa (1) feita pelo Silicon Valley Bank com mais de 120 executivos de empresas tecnológicas vinculadas à saúde concluiu que os programas de inteligência artificial, a big data aplicada no setor e a internet das coisas serão as três grandes áreas tecnológicas que produzirão um impacto significativo a partir de 2017.

A análise preditiva está sendo utilizada por hospitais e outras organizações de saúde de ponta para atividades de identificação e estratificação de risco de pacientes relacionadas com uma série de condições crônicas e agudas, incluindo a hepatite C, a sepse, o suicídio, os riscos de saúde mental, a aderência à medicação e a diabetes, entre outros.

Por outro lado, a proliferação de ferramentas e dispositivos usáveis e, em geral, dispositivos conectados como: monitores de exercícios físicos, aplicativos de saúde móveis, escalas de medição de peso, monitores de glicose ou de pressão sanguínea, entre outros, permitem aos pacientes um grau de flexibilidade sem precedentes quando se trata da gestão e do controle de sua própria saúde.

Se aplicássemos a análise preditiva em toda essa imensa gama de dados que os próprios pacientes entregam e geram, com aqueles que já constam nos registros clínicos e eletrônicos hospitalares, junto com outros dados externos gerados sobre o ambiente, os hospitais poderiam fazer verdadeiros programas analíticos que os ajudariam a fidelizar, reter e administrar a saúde de seus pacientes, bem como analisar o contexto de saúde da população atendida com uma visão mais ampla e rica, conceito que cada vez ganha mais peso dentro das iniciativas estratégicas dos hospitais modernos (gestão de saúde da população).

No entanto, é importante observar que sem padrões de interoperabilidade, modelos de governo de dados e, sobretudo, sem uma estratégia digital integral, a imensa riqueza de informações geradas torna-se simplesmente incontrolável e investimentos nesta área não trarão o retorno esperado aos gestores.

Um marco de trabalho conceitual para a transformação digital hospitalar

Para definir uma estratégia digital é imprescindível ter uma visão completa dos desafios que enfrentamos no relacionamento com nossos pacientes (visão externa) e como podemos satisfazê-los da forma mais eficiente, ajustando a forma pela qual fazemos as coisas (visão interna). Sem este enfoque integral, corremos o risco de executar ações parciais e/ou desconectadas entre si.

Assim, qualquer iniciativa de transformação digital não somente deve estar “alinhada” com a estratégia do hospital, como estar imersa e fazer parte dela. Os hospitais precisam focar no digital a partir do ponto de vista estratégico se desejam ser de fato uma alavanca de transformação e modificações reais, e ser um líder do presente e do futuro. Não se trata de um “problema tecnológico”, mas sim de uma modificação na mentalidade.

Para ajudar as organizações de saúde neste processo complexo, a NTTDATA conceitualizou um marco de trabalho que integra diferentes elementos (2) a serem considerados na transformação digital hospitalar, com suas inter-relações e dependências. Utilizar esta ou qualquer outra estrutura conceitual existente no mercado pode ajudar nas fases iniciais para organizar seu trabalho.

Os hospitais da América Latina frente a estes desafios

Para concluir, faço umas perguntas para todos aqueles com quem trabalhamos no setor hospitalar latino-americano. Estamos preparados para esta era de transformações? Será outro momento na história social, econômica e tecnológica da região, em que deixamos passar a oportunidade de repensarmos e nos conformaremos em sermos espectadores ou, na melhor das hipóteses, em “reproduzir” o que os outros fazem sem adaptá-lo à nossa realidade? Em resumo, seremos os verdadeiros protagonistas da mudança?

Conforme vimos anteriormente, não somente se trata de modernizar infraestruturas ou tecnologias médicas. Precisamos, sobretudo, de uma mudança de mentalidade, uma mudança cultural intensa. Alguns hospitais da região estão em perfeitas condições para definir um caminho próprio, transformador, alinhado com as melhores tendências globais, mas adaptado à sua realidade local. Outros continuarão pensando que é uma moda passageira.

Os hospitais públicos, por sua vez, precisam de um empurrão e do convencimento de seus governos, os quais devem entender que, em boa parte, a sustentabilidade do sistema sanitário dos seus países dependerá do grau com que adotem estas mudanças.

Finalmente, os hospitais que surgirem como líderes do futuro não serão aqueles com maior faturamento ou com os melhores índices de lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization, EBITDA), serão aqueles que saberão interpretar melhor o momento social, econômico e tecnológico atual.


(1) “BIG DATA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CONTINUAM SENDO AS GRANDES PROMESSAS PARA AS TECNOLOGIAS DE SAÚDE, SEGUNDO A PESQUISA DO SILICON VALLEY BANK”

(2) Somente alguns destes elementos foram introduzidos neste artigo por razões de limitação de tamanho

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Mario Chao

VP Healthcare everis Americas & ehCOS CEO.

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